01.04.2006 - De Ushuaia (Argentina) a Punta Arenas (Chile)
Já o interior e o norte da ilha eram ocupadas pelos Ona - tribo nômade de raça robusta e de grande estatura - e também pelos Tehuelches.
Hoje ambas as tribos foram praticamente eliminadas pelos colonizadores.
Como se vê no mapa, a Argentina tem parte do território totalmente isolada do restante. O Chile corta a Argentina em dois pedaços, na Isla Grande.
Para ir de Ushuaia (Argentina) a Punta Arenas (Chile) é necessário atravessar a fronteira em San Sebastián, e depois escolher um dos dois pontos de travessia do Estreito de Magalhães: Porvenir ou Punta Delgada.
Por Punta Delgada a travessia é mais curta e este é o caminho utilizado pelos ônibus que partem de Ushuaia e de Rio Grande em direção ao continente.
A viagem de ônibus dura em média 12 horas não tanto pela distância, mas pela passagem dos postos de imigração dos dois países, pela travessia do Estreito e pelas péssimas condições das estradas de rípio do lado Chileno, na Tierra Del Fuego.
O Chile não tem interesse em manter essas estradas, já que a maioria do tráfego se dirige a Rio Grande e Ushuaia, território Argentino.
É uma vasta planície; não se vêem montanhas em um ângulo de 360 graus.
Pela janela do ônibus a gente vê ovejas, ovejas, ovejas, ovzzzzzzzzzzzzzzzzzz...
Nos postos de imigração,tanto do lado da Argentina como do Chile, o tratamento é o mesmo, é proibido entrar com frutas, legumes, animais ou carne. O ônibus é revistado e essas coisas são confiscadas.
O trecho entre San Sebastián e o Estreito de Magalhães, como já disse, é de rípio e então a gente começa a entender por que quase todos os ônibus e carros de Ushuaia têm vidros rachados.
Fotografei o celeiro no Paso Fronterizo de San Sebastián, já no lado do Chile .
O Estreito de Magalhães é um lugar que despertou minha curiosidade desde a infância, quando li um livro que contava a história de sua viagem.
Fernão de Magalhães comandou a esquadra que saiu da Espanha em 1519 e, navegando sempre para o oeste, provou que a terra era redonda.
Somente um dos cinco navios que partiram deu a volta completa e retornou à Espanha 3 anos depois, com apenas 18 dos 237 tripulantes que haviam embarcado na expedição. O próprio Magalhães havia sido morto nas Filipinas pelos indígenas.
Entre os que concluíram a viagem estava o veneziano Antonio Pigafetta, autor do célebre relato da viagem. E esse também era um dos livros que eu estava procurando, e que acabei encontrando bem mais adiante, em El Calafate.
A travessia Baía Azul - Punta Delgada é feita por uma empresa chilena. As balsas são novas e boas mas a que nós embarcamos era totalmente fechada. Foi como estar trancado dentro de ônibus estacionado numa garagem fechada e totalmente ocupada.
Não consegui sair do ônibus na travessia nem fotografar. Por isso tive que recorrer novamente à Internet para ver se conseguia alguma coisa interessante. Portanto a foto do ônibus não é minha, mas sim de um jornal argentino.
Aliás, jornal de 12 de maio, dizendo que “El gobierno argentino del Presidente Néstor Kirchner accedió a una sentida y larga aspiración de las autoridades y habitantes de la provincia argentina de Tierra del Fuego, al comprometer la entrega de 20 millones de dólares (unos 10.800 millones de pesos chilenos) para concretar el cruce al territorio continental por aguas argentinas, evitando transitar por territorio chileno. El anuncio fue recibido con júbilo en Río Grande y Ushuaia, sobre todo por el gremio del transporte.”
A América do Sul está fervilhando de pequenos conflitos: Argentina e Uruguai brigam por causa de uma fábrica de celulose, Chile e Argentina pela Isla Grande, do canal de Beagle e agora por causa desta travessia. Argentina e Inglaterra pela questão das Malvinas (em todo lugar se lê “las Malvinas son Argentinas”, em tinta fresca). O Chile reserva para si todo o extremo sul da América e se diz dono de uma fatia imensa da Antártida. A Bolívia resolveu resolveu acordar de um sono de 500 anos, desde o genocídio de Potosí, e a Venezuela se movimenta para romper a suposta liderança de Brasil e Argentina sobre o continente.
Enquanto isso, os brasileiros continuam ignorando a questão da Amazônia.
Depois da travessia, a viagem rende bem. A estrada que liga Punta Delgada a Punta Arenas é asfaltada e muito bem conservada.
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